Os bispos católicos no Brasil também acusam o governo de usar sistematicamente “argumentos não científicos”.
By Jessica Corbett
Sonhos comuns
A Uma rede de sindicatos e organizações sociais que representa mais de um milhão de profissionais de saúde no Brasil apresentou uma queixa na segunda-feira pedindo ao Tribunal Penal Internacional que investigue a forma amplamente condenada como o presidente Jair Bolsonaro lidou com a pandemia do coronavírus, argumentando que isso constitui um crime contra a humanidade.
À medida que o número de casos e mortes por Covid-19 no Brasil subiu para mais de 2.44 milhões e mais de 87,600, respectivamente – perdendo apenas para os EUA – Bolsonaro provocou intenso crítica no país e no estrangeiro por minimizarem a ameaça representada pelo vírus, recusando-se por vezes a usar máscara facial ou praticar o distanciamento social e desafiando as restrições locais. Depois testando positivo no início de julho para o vírus que ele tem demitido como uma “gripezinha”, Bolsonaro anunciou sábado que ele já testou negativo.
A rede brasileira UNISaúde apresentou uma queixa ao TPI, o tribunal internacional com sede em Haia que investiga e processa indivíduos por genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão. Como Al Jazeera relatado, a denúncia dos profissionais médicos acusa o governo de ser “criminalmente negligente na gestão da pandemia de Covid-19 – arriscando a vida de profissionais de saúde e de membros da sociedade brasileira”.
A denúncia ao TPI acusa o presidente brasileiro de 65 anos e sua administração de responder à pandemia em curso com “desprezo, negligência e negação” e de intensificar a crise ao se opor às medidas de isolamento social, uma mentalidade que foi adotada por outros em todo o Brasil, de acordo com NPR. A saída continuou:
A denúncia também cita a “insistência inflexível” de Bolsonaro no uso dos medicamentos antimaláricos, cloroquina e hidroxicloroquina. Vários estudos científicos mostram que estes são ineficazes contra a Covid-19.
NPR contatou o gabinete de mídia do presidente na segunda-feira para comentar a reclamação e foi encaminhado ao departamento do procurador-geral, que disse que responderia somente após ouvir o TPI.
“O governo Bolsonaro deveria ser responsabilizado por sua resposta insensível à pandemia e por se recusar a proteger os profissionais de saúde e os brasileiros que jurou defender”, Marcio Monzane, secretário regional da UNI Américas, o grupo que liderou a ação legal, dito em um comunicado. “Apresentar um caso ao Tribunal Penal Internacional é uma medida drástica, mas os brasileiros enfrentam uma situação extremamente terrível e perigosa criada pelas decisões deliberadas de Bolsonaro.”
A UNISaúde observou que “os sindicatos acreditam que esta é a primeira ação deste tipo a ser movida contra um governo por mortes e doenças em grande escala devido a falhas de saúde pública”.
Libia Bellusci é vice-presidente do Sindenf-RJ (Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro) e atua no Hospital Estadual Getúlio Vargas. Ela também é um dos milhões de brasileiros que contraíram a Covid-19. Bellusci disse que a denúncia é importante porque o governo banalizou a pandemia desde que ela chegou ao seu país.
“No início, o próprio presidente disse que [a Covid-19] era um resfriado, e depois, quando o Brasil já tinha milhares de mortes, ele disse: 'E daí?' Sua postura acabou inviabilizando o processo de cuidado e proteção dos trabalhadores da saúde e da população”, afirmou. “Só com a denúncia internacional poderemos mostrar que as entidades de saúde estão unidas em favor da classe trabalhadora, porque hoje nós, da enfermagem, lideramos o ranking de mortes de profissionais de saúde.”
Os profissionais médicos são longe de estar sozinho em alertar sobre a resposta do governo Bolsonaro à crise de saúde pública.
NPR relataram que 152 bispos católicos no Brasil assinaram uma carta aberta alertando sobre o “caos socioeconômico” iminente e criticando o governo pelo uso “sistemático” de “argumentos não científicos… para normalizar a praga da Covid-19 que está matando milhares de pessoas, e para trate isso como se fosse um acidente ou punição divina.”
A carta dos bispos acusa a administração Bolsonaro de ser incapaz de lidar com a “tempestade perfeita” criada pela “crise de saúde sem precedentes, pelo colapso económico avassalador” e pelas “tensões” entre instituições governamentais.
Embora a situação em algumas partes do Brasil duramente atingidas pela Covid-19 tenha “estabilizado”, como o populoso estado de São Paulo, os casos ainda estão aumentando em 10 dos 26 estados do país e há preocupações específicas com a floresta amazônica, onde muitos grupos indígenas falta acesso fácil aos cuidados médicos modernos. Citando pesquisadores brasileiros, o New York Times relatado sábado que no país, “as seis cidades com maior exposição ao coronavírus são tudo no rio Amazonas.”
Jessica Corbett é redator da Common Dreams. Siga-a no Twitter: @corbett_jessica.
As opiniões expressas são exclusivamente do autor e podem ou não refletir as de Notícias do Consórcio.
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